A importância da Geografia na atual conjuntura brasileira e sua subordinação a atual ordem das coisas

A importância da Geografia na atual conjuntura brasileira e sua subordinação a atual ordem das coisas

Para começarmos esta reflexão, coloco as seguintes indagações; Para que serve a universidade? Pra formar profissionais tecnicistas a serviço do mercado ou formar pessoas com senso crítico não somente dentro de sua área de conhecimento, ou seja, com uma visão mais ampliada de mundo, de sociedade? Pois bem, creio que seja a ultima opção. Contudo, o geógrafo baiano Milton Santos nas partes finais de seu texto intitulado “1992: A redescoberta da natureza”, publicado na década de 1990, faz alguns apontamentos acerca desta indagação. Assim, estes subsidiaram a reflexão aqui posta, sobre o papel que a Universidade vem desempenhando atualmente em nossa sociedade, onde busco enfatizar o papel do geógrafo, da ciência geográfica, em relação atual conjuntura brasileira.

Na época, referindo-se ao papel desempenhado pelas universidades, Milton Santos expõe fatos de vital importância a serem compreendidos. Um deles, é que “as disciplinas incubidas de encontrar soluções técnicas, as reclamadas soluções práticas, recebem prestígios de empresários, políticos e administradores e desse modo obtém recursos abundantes para exercer seu trabalho”, o que acaba por delinear o caráter mercantil do ensino superior, através de um “processo de racionalização perversa da Universidade” que segundo o autor, seria “o melhor passaporte para os postos de comando”. Ou seja, Milton Santos naquela época, já alertava sobre “o risco de assistir ao triunfo de uma ação sem pensamento sobre um pensamento desarmado”, algo, que hoje se mostra cada vez mais evidente no ensino superior, e em outras dinâmicas sociais, bem como a atual conjuntura brasileira, tendo considerações amplas.

Tais prerrogativas mercantis supracitadas já inseridas no meio acadêmico causam na ciência geografia, em especifico, certa segregação entre geógrafos, colocando de um lado os adeptos aos estudos físicos e de outro, aos estudos de caráter mais humano, e com a racionalidade imposta aos cursos os de formação em bacharel e de outro os em licenciatura. Diante dessas considerações, ocorre atualmente certa subordinação de alguns geógrafos a “atual ordem das coisas”, uma vez que dispensam o senso crítico das coias, proporcionado pelo fazer ciência, e se inserem na dinâmica perversa do sistema mercantil de informações. Com isso, ressalto que vale hoje resgatar a unicidade do pensamento geográfico, que é basicamente buscar ter uma visão crítica do espaço em sua totalidade. E afirmo, sim, tem que e deve ser considerada á importância da participação do Geógrafo - que possuí senso crítico, a visão totalitária do que é o espaço - em tomadas de decisões, principalmente se considerarmos o momento em que o Brasil vive, onde análises geográficas são de suma importância para o seu entendimento.

Para concluir, encerro esta reflexão com uma citação de Milton Santos, em que o autor na época já apontava a necessidade de se resistir a tais mudanças, tanto dentro da geografia como também em outras áreas da sociedade.

O empenho com que nos convocam para tratar, seja como for, as questões do meio ambiente, sem que o espaço, um maior seja reservado a uma reflexão mais profunda sobre as relações, por intermédio da técnica, seus vetores e atores, entre a comunidade humana assim mediatizada e a natureza, assim dominada, é típica de uma época e tanto ilustra os riscos que corremos, como a necessidade de, em todas as áreas do saber, agir com heroísmo, se desejamos poder continuar a perseguir a verdade. (SANTOS, 1992, p. 11-12).

 

Reflexão de Lorian Del Prete da Rocha